Foi a pergunta colocada por um amigo meu.
A resposta que me surgiu na altura foi a seguinte.
"Um acto de criação pode querer dizer varias coisas consoante o contexto em que tentarmos usar esse termo.
Contudo, penso que em todos os casos é um acto que se pode enquadrar num grupo de actos com uma característica própria dos mesmos.
Diria que em todos eles existe uma tensão de significados entre o antes e o depois, ou seja, quando se está a criar - no momento da criação - existe (ou costuma existir) um certo suspense de antecipação de qualquer coisa nova. Se comparar-mos com aquele fenómeno que as pessoas costumam referir de ver a vida toda passar-lhes pela consciência nos poucos segundos em que enfrentam uma situação de morte iminente, diria que no caso do suspense da criação, esses flashes prendem-se com a visualização do antes e do depois, da confrontação entre a não existência e a emergente existência. Neste confronto, pesa sobre a não-existência a negação de tudo aquilo que a existência poderá trazer (ou pelo menos tudo aquilo que o criador pensa que poderá trazer) e diria que no outro lado do espelho, pesa sobre a existência eminente a duvida de se saber se aquilo que o projectista/criador pretende criar e imagina irá mesmo acontecer, e ainda mais do que isso - penso que uma parte importante também para o criador neste momento é a sua antecipação acerca da possibilidade de acontecerem coisas que ele não planeou, ou que apenas intui muito vagamente naquele momento. Ou seja, há uma espécie de esperança aqui de que o momento da criação contenha na própria mecânica do seu acontecimento umas propriedades, uns ingredientes mágicos que possibilitem o surgimento de coisas muito especiais, preciosas, geniais - coisas que o criador considera importante aparecerem/acontecerem sejam elas quais forem (isso talves mude um bocado de criador para criador)."
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